quarta-feira, 29 de julho de 2015

Elite burra e covarde

Por Miguel Dias Pinheiro

A crise econômica brasileira deixa mesmo a nossa elite indignada? Pelo menos passa a impressão quando se assiste ela nos microfones dos plenários, dos meios de comunicação e nas ruas clamando por punição ao governo. Na opinião lúcida de Luis Fernando Veríssimo, de quem enxerga além das aparências e do senso comum, “embora o momento corrente não seja corriqueiro, um olhar histórico traz ensinamentos”. E a história ensina que a burguesia adora uma crise, justamente para tirar proveito dela.

Na sanha de derrubar a qualquer custo um governo alçado pelo voto direto, secreto e universal, em meio a um período econômico conturbado, burramente nossa burguesia avança para “golpear” todos os políticos e o “status quo” social conquistado pela sociedade às duras penas. Não é novidade que durante os últimos governos no Brasil a sociedade ampliou a renda, o salário mínimo cresceu significativamente de maneira contínua e houve uma série de programas sociais, que, inclusive, beneficia de maneira direta o “burguês empresário”. Usando o bordão “contra a corrupção”, a elite mostra suas garras e tenta fulminar quaisquer que sejam as conquistas, para, segundo ainda ela em praça pública, sepultar de vez com o “Brasil da esmola”.

A elite brasileira é engraçada. Gosta de ser elite, de mostrar que é elite, de viver como elite, mas detesta ser chamada de elite, principalmente quando associada a alguma mazela social. Afinal, mazela social, para a elite, é coisa de pobre. A elite gosta de criticar e xingar tudo e todos. Chama isso de liberdade de expressão. Mas não gosta de ser criticada. Aí vira perseguição. Quando a elite esculhamba o país, é porque ela é moderna e quer o melhor para todos nós. Quando alguém esculhamba a elite, é porque quer nos transformar em uma Cuba, ou numa Venezuela, dois países que a elite conhece muito bem, embora não saiba exatamente onde ficam. Ideia de elite é chamada de opinião. Ideia contra a elite é chamada de ideologia. A elite gosta de mostrar que tem classe e que os outros são sem classe. Mas, quando alguém reclama da elite por ser esnobe, preconceituosa e excludente, é acusado de incitar a luta de classes. Quando o governo da elite, décadas atrás, decidiu fazer contabilidade criativa, gastando menos com educação e saúde do que a Constituição determinava, deram a isso o pomposo nome de "Desvinculação das Receitas da União" - inventaram até uma sigla (DRU), para ficar mais nebuloso e mais chique (Antonio Lassance, cientista político e pesquisador do IPEA).

“A elite brasileira é burra porque nunca apresentou propostas. Jamais vão apresentar. Não sabem ir às ruas, protestam dos sofás, deglutem esfomeados as notícias de uma imprensa contaminada por esta mesma patologia que os faz acéfalos. Papagaios de pirata e seguidores de ideologias são eles. Deveriam se envergonhar de não conhecer a política e a democracia. Incapazes que são de apresentar um debate sério e profundo sobre as reais condições da política nacional neste momento, confortam-se em bater panelas das janelas de seus luxuosos apartamentos. Não se ouvem e querem fazer ouvir. A elite brasileira é burra. Não soa bem o adjetivo sem a posterior explicação: é burra porque jamais se preocupou com a condição do país, mas sim com a manutenção do status quo, a centralização de seu poder, de suas riquezas e de sua influência. A elite brasileira jamais derramou uma gotícula do seu valioso suor com as questões políticas desta terra, afinal, todos os problemas do Brasil foram sempre endereçados aos pobres, à classe trabalhadora” - avalia o baiano Mailson Ramos, cronista, contista e poeta.

“A elite brasileira é ainda anacrônica. Exige golpe, intervenção militar, regresso da ditadura. Querem reviver o tempo em que todos os papéis da sociedade eram estabelecidos pelo poder estatal. Seria a volta da ordem: pobres, pretos e periféricos de um lado, a elite soberba do outro. Para não alongar, devo dizer que a elite, ainda que burra, tem todo o direito de protestar e expor suas reivindicações. Mesmo que não conheça a democracia devem conhecer e usufruir os direitos que têm. Mas a compreensão dos direitos não os transforma em seres dialógicos; muito pelo contrário. A elite se aglutina a uma direita ultraconservadora com o intuito de mascarar um golpe de Estado. Aliás, a elite é a própria direita” – continua.

“Não será possível remodelar uma sociedade onde os mais poderosos estão com os olhos voltados para os umbigos. É um caminho cíclico, próprio ao “locus brasiliensis”: pobres de um lado, ricos do outro. Todas as vezes em que as políticas determinarem uma alteração deste estado, as batalhas serão iminentes. Tenho debatido sobre esta condição de ódio que prefiro adjetivar com outro conceito: ojeriza. Estamos falando de ojeriza de classe, pura e insensível. E é este sentimento que tem construído, na elite, sua face maniqueísta. Perde com isso o Brasil, a sociedade, a política, a democracia. Difícil é pensar que, quando nada dá certo por aqui, os amantíssimos brasileiros que são capazes de panelaço e buzinaço, partem para a Europa ou os Estados Unidos. Esta é a nossa elite. Burra e covarde” – conclui.
FONTE: PORTAL AZ

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