terça-feira, 25 de agosto de 2015

Assassinato disfarçado de suicídio

Por Miguel Dias Pinheiro - Advogado

Hoje, 25 de agosto de 2015, completam-se quatro anos da morte da estudante de Direito Fernanda Lages. Nas primeiras horas do dia daquela quinta-feira trágica, um oficial da Polícia Militar e, posteriormente, um delegado da Polícia Civil do Piauí estavam convictos de que o evento morte era resultado de assassinato com requintes de crueldade. O delegado, inclusive, chegou a anunciar que na segunda-feira próxima a sociedade saberia quem seriam os autores do crime. De repente, tudo mudou e no final a polícia federal produziu um relatório hilário: pode ter sido um acidente ou um suicídio.

Quem conviveu com a jovem Fernanda Lages nas suas últimas horas de vida nunca se viu uma suicida tão de bem com a vida na véspera da morte. Fernanda circulou por uma casa noturna, paquerou, divertiu-se em uma lanchonete da zona norte de Teresina e lanchou dando risadas com colegas. Parecia, enfim, uma jovem que não desejaria suicidar-se naquela madrugada do dia 25 de agosto de 2011.

O caso Fernanda Lages nos remete ao ocorrido com no dia 16 de janeiro de 2015 com o promotor federal Alberto Nisman, em Buenos Aires. Segundo o noticiário da época, na noite anterior ao crime o promotor pareceu muito animado aos amigos com os quais conversou por telefone. A um deles, enviou por celular uma foto que mostrava alguns documentos sobre a mesa de trabalho. Eram parte das provas do envolvimento da presidente Cristina Kirchner e figurões do governo numa trama político-policial.

Ainda de acordo com a imprensa “o ousado homem da lei estava pronto para apresentar ao Congresso, na segunda-feira, a documentação que sustentava a denúncia que uma semana antes espantara milhões de argentinos: em parceria com o governo no Irã, a presidente vinha agindo nas catacumbas para sepultar as investigações sobre o atentado terrorista sofrido em 1994 pela Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). O arquivamento do caso garantiria a impunidade dos oito iranianos que planejaram a explosão da bomba que matou 85 pessoas. Em troca da criminosa manifestação de apreço, os aiatolás atômicos beneficiariam a comparsa com generosos acordos comerciais” (Augusto Nunes).

No amanhecer do dia, o corpo do promotor foi encontrado no banheiro com uma bala na cabeça, ao lado de um revólver calibre 22. Os integrantes do esquema de segurança juram que foram dispensados do serviço, entre a noite de sexta e a manhã do domingo, pelo homem que deveriam proteger. Também juram que tentaram inutilmente falar com Nisman por telefone. Intrigados com o silêncio do outro lado da linha, chamaram a mãe do promotor, que não encontrou o código para abrir a porta. Chamaram então um chaveiro, que topou com uma segunda porta apenas encostada. Conclusão: “suicídio”.

A história forense do Piauí registra vários “assassinatos disfarçados de suicídios”. Como nunca me convenci de que a estudante de Direito Fernanda Lages se suicidou, seu caso é apenas mais um a se juntar a muitos e também àquele ocorrido no Bairro Mocambinho, em Teresina, em que se suspeitou do envolvimento passional de um político já falecido, mas que terminou como suicídio da inditosa vítima, ou seja, mais um “assassinato disfarçado de suicídio”.

Penso até que um dia o caso Fernanda Lages terá uma reviravolta. E por que não? Até porque em casos assim o sentimento do arrependimento fica na cabeça do(s) criminoso(s) e dos que sabem da verdade como uma “bolha d’água no ouvido” de quem mergulhou, zoando incessantemente. Acredito também que no Piauí não se tenha um “manual de suicídio”, uma cultura da morte que vai sendo aceita pela sociedade com uma naturalidade que assusta um olhar mais atento. Mas tendo, o momento hoje seria muito apropriado para se identificar seu “instituidor”.

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