quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Bordéis da Rua Paissandu ajudaram no surgimento do Corso há 80 anos

Os jovens que se divertem atualmente no Corso de Teresina nem imaginam como ele era há mais de 80 anos. O evento de Carnaval mais esperado do ano no Piauí, e o maior desfile de carros do mundo segundo o Guinness Book nasceu há muito tempo, e depois de quase praticamente desaparecer da agenda de eventos da cidade, voltou para ficar.
Mesmo já sendo um senhor de idade, foi na década de 1990 que o Corso se tornou um fenômeno na capital. A folia de hoje nem se compara com os primeiros desfiles de carros no centro da ainda menina Teresina.
Na década de 70, o desfile teve um declínio e voltou em 1997, sendo adotado pela prefeitura. Uma das atrações da festa era, e continua sendo, o Caminhão das Raparigas, uma homenagem às prostitutas dos famosos cabarés da Rua Paissandu e dos bordéis que existia naquela época.
Prostitutas e seu desfile em caminhão aberto deram pontapé para Corso de Teresina, ainda na década de 30Prostitutas e seu desfile em caminhão aberto deram pontapé para Corso de Teresina, ainda na década de 30
FESTA COMEÇOU NAS PRAÇAS
A brincadeira nasceu no Brasil no final do século XIX e teve seu auge no Piauí entre as décadas de 30 e 50. Nos anos 30, quando os primeiros carros chegaram à cidade, as festas aconteciam nas praças Rio Branco e Pedro II, e na Avenida Frei Serafim, onde boa parte dos foliões moravam.
Na época, as donas e frequentadoras de bordéis da cidade trajavam as melhores roupas, alugavam caminhões e saíam da Rua Paissandu, percorrendo a Praça Rio Branco, Avenida Antonino Freire e Frei Serafim, no período carnavalesco, numa espécie de represália à discriminação que sofriam.
Com o projeto de revitalização do carnaval realizado pela Prefeitura de Teresina em 1997, chamado Reviver Carnaval, as audaciosas prostitutas da Paissandu ganharam homenagem com o “caminhão das raparigas”. O desfile desse carro tornou-se tradição, sendo as prostitutas representadas por atrizes fantasiadas.
caminhaodasraparigas.png
A brincadeira contagiou os foliões teresinenses, que com ou sem fantasia, de carros, caminhões, carroças, motos ou mesmo acompanhando a pé todo o percurso, não deixam a folia morrer. Ficar nas ruas por onde passa o cortejo também é garantia de diversão.
Maria da Conceição, 90 anos, relata que naquele tempo as festas eram comemoradas em cabarés da cidade. No terreno onde hoje fica o Liceu Piauiense, que segundo ela, já abrigou um cabaré. O lugar tinha um quintal grande com uma estreita trilha, usada pelos frequentadores.
“Lembro que tinha uma roça grande ali onde é o colégio Liceu, lá já foi um cabaré famoso. Por trás da igreja das dores na Rua São Pedro, também havia um bastante movimentado e tinha outro, onde é o shopping dos camelôs ali perto do rio”, declara.
Maria da Conceição é tão apaixonada por carnaval, que aos 90 anos disputou título de Rainha de Momo da 3ª idadeMaria da Conceição é tão apaixonada por carnaval, que aos 90 anos disputou título de Rainha de Momo da 3ª idade
As casas que margeavam, o Rio Parnaíba eram todas de palha. E assim a capital possuía no tempo, vários bordéis que serviam como ponto de diversão para os boêmios das noites teresinenses. Isso sem deixar de lado o famoso bar flutuante que ficava no Rio Parnaíba ao lado do mesmo lugar onde hoje é o Shopping da Cidade.
“Perto do Rio Parnaíba tinha umas casas de palha, que servia de diversão para boêmios e coronéis ricos daquele tempo, tinha muitos cabarés e as mulheres não eram vistas andando nas ruas das cidades, só quando tinha o caminhão das raparigas, que elas saiam dos bordéis”, disse Tereza Rodrigues, 73 anos, lembrado junto com suas amigas no ensaio para rei e rainha da terceira idade do carnaval.
Dona Teresa lembra que os bordéis do centro de Teresina eram, antigamente, palco das principais festas de carnaval da cidadeDona Teresa lembra que os bordéis do centro de Teresina eram, antigamente, palco das principais festas de carnaval da cidade
AS BELAS GAROTAS DOS BORDÉISNaquele tempo as donas de bordéis resolveram juntamente com clientes sair para avenida para comemorar o carnaval com o famoso ‘Caminhão das Raparigas’. Uma afronta para a sociedade provinciana da época.
Trajeto do desfile tinha aproximadamente 5km e passava pelas ruas do centro da capitalTrajeto do desfile tinha aproximadamente 5km e passava pelas ruas do centro da capital
Os carros eram guiados por cerda de 5 km pelos caminhão com as atrizes fantasiadas ao som de bandas de música entoando canções tradicionais da folia de momo. Saindo da Raul Lopes, eles seguiram pela Ponte Estaiada, seguindo na Avenida Alameda Parnaíba até a Rua Magalhães Filho, Avenida Pernambuco, Duque de Caxias até o Petrônio Portela.
Na sequência, os carros seguiam para a Avenida Marechal Castelo Branco, onde eram recepcionados com atrações musicais em uma mega estrutura da Pré-Carina. Leidimar Carvalho lembra que o carnaval era o único período do ano em que as prostitutas da Rua Paissandu, poderiam se misturar à sociedade.
caminhaodasraparigas2.png
“Eu era pequena quando minha tia me levava por corso daquela época, lembro que começava ali perto do corredor da Praça Rio Branco. Uma das atrações mais esperadas era o caminhão das raparigas, elas alugavam um carro, e desfilavam pelas principais ruas da cidade, mostrado os luxuosos vestidos.”, explicou Leidimar.
Segundo a dona Antônia de Amorim, 74 anos, um primo dela era proprietário do cabaré conhecido como ‘Estrela’, um dos primeiros a sair nas avenidas. “Tinha três mulheres que organizavam o desfile das raparigas, eram mulheres muito bonitas. Eram elas Maria José e Raimundinha. Elas desfilavam com roupas longas e bonitas”, explicou.
Nada de pernas de fora! Mulheres desfilavam com longos e luxuosos vestidosNada de pernas de fora! Mulheres desfilavam com longos e luxuosos vestidos
Naquele tempo as igrejas tinham muita influência perante a sociedade e intervia nos costumes do povo e na educação dos jovens. Segundo o senhor Raimundo Monteiro, 66 anos, todos participavam com alegria. Naquela época era a sociedade era bastante conservadora, não tinha muito preconceito, e todos participavam sem nenhum problema.
Desfile de blocos nas ruas acabou perdendo a forçaDesfile de blocos nas ruas acabou perdendo a força
Nos anos 70, os blocos que haviam surgido ganharam mais força, e se transformaram em escolas de samba. Os instrumentos de sopro foram substituídos por instrumentos de percussão. O Corso, que animava tanto os foliões carnavalescos, tinha acabado. No inicio dos anos 90, a Festa de Momo passou quase despercebida por Teresina, com exceção de algumas festas em clubes.

O bom carnaval então passou a acontecer dentro dos clubesO bom carnaval então passou a acontecer dentro dos clubes
“Naquele tempo, tudo era novidade, o mais esperado era o caminhão das raparigas, mas deve uma época que o carnaval tinha acabado e só tinha a festa de ‘Momo’, em algumas boates de Teresina, mas o espírito de lutar pelo carnaval, nunca morreu dentro de mim”, disse João Bosco, atual presidente da Unidos da Saudade.
joaoboscofaladocarnaval.png
O corso tinha o seguinte percurso: Iniciava-se na Rua Lisandro Nogueira, seguia pela Rua Barroso, passava pela Praça Rio Branco, ia até a rádio Pioneira, subia pela Rua Paissandu chegando ao Karnak. Passava pela Rua 7 de Setembro que se chamava Rua do fio ao lado dos Correios, voltava pela Rua Lisandro Nogueira e parava na Praça do Liceu. Esse era o Corso da época.
corsopelocentrodeteresina.png
A VOLTA DO CORSO DO ZÉ PEREIRA
As escolas de samba começaram a surgir nos anos 80. O desfile acontecia nos dias de carnaval juntamente com o caminhão das raparigas, mas deve um momento que a festa não conseguiu ter continuidade por causa da concorrência das escolas e manifestações de blocos carnavalescas.
E por muito tempo o Corso permaneceu esquecido, voltando somente no final dos anos 90, com a retomada do carnaval de rua, na primeira gestão do prefeito Firmino Filho. Uma data para a festa foi estipulada. O sábado do Zé Pereira.
fotodasfestasdocorso.png
Firmino Filho definiu o resgate do carnaval da capital em 1998, quando as escolas de samba saiam para desfilar. A realização do corso voltou e tinha um percurso que passava pelo centro, zona Sul e zona Norte. Nos anos seguintes o trajeto passou por várias alterações e a premiação dos melhores caminhões era feita através de votação popular.
PERCURSODOCORSO.png
O MAIOR DO MUNDO!
Mais foi entre 2007 e 2011 que o evento começou a se tornar gigante e começou a ganhar status de maior do mundo. Tamanho foi o sucesso do corso, que no ano seguinte, em 2012, o corso de Teresina foi reconhecido mundialmente com o recorde estabelecido por maior parada de carros alegóricos do mundo: 343 veículos, 40 mil pessoas, em seis horas e meia de festa, com percurso de 7,3 quilômetros.
2014 CORSO (93).JPG
O juiz do Guinness Book, Michael Janela, anunciou oficialmente que Teresina tinha entrado para o livro dos recordes.
corsodeteresinatitulo.png
“Realmente foi uma grande conquista esse prêmio, sempre foi um prazer fazer parte do carnaval e torna ele bem visto. E esse ano será o melhor Corso da história e o que vem pela frente é ainda melhor”, disse Jamil Moises atual presidente da Skindô.
jamilfaladasko.png
Edição: Maycon Carlos
Repórter: Maycon Carlos
Publicado Por: Apoliana Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário