segunda-feira, 25 de maio de 2015

A ‘agonia’ do PT

Por Miguel Dias Pinheiro* 

Neste sábado, o PT realizou seu 5º Congresso Estadual em São Paulo. O colunista Ricardo Kotscho comenta a baixa audiência e pífio comparecimento da militância e diz que as “cadeiras vazias” são o retrato da “agonia” do partido: “A militância sumiu, nem Lula apareceu”, identificou. "Perdemos a batalha política", resumiu sem meias palavras o professor Marco Aurélio Garcia, um dos fundadores do partido, 35 anos atrás, e assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais desde a chegada do PT ao poder, em 2003.

Encarregado de fazer um balanço da situação, Marco Aurélio Garcia nem precisava falar mais nada. Bastava apontar para a platéia. Segundo Kotscho, “das mil cadeiras enfileiradas na quadra do Sindicato dos Bancários para receber os participantes do 5º Congresso Estadual do PT, em São Paulo, nem a metade estava ocupada. A militância sumiu, nem Lula apareceu”.

No passado, qualquer congresso do PT era disputado “à tapa”, tinha até bate-boca por crachás. De acordo com as conclusões do fundador-petista Marco Aurélio Garcia, “isso é um sintoma grave de uma crise que nos atinge de forma objetiva e subjetiva". Para ele, “o partido não conseguiu entender o fenômeno das classes que foram favorecidas pelas medidas de inclusão social adotadas nos governos do PT e a reeleição de Dilma encerrou este ciclo de 12 anos, que está esgotado”.

E conclui de maneira mordaz, cruel, impiedosa para admitir que "os militantes não se sentem mais representados pelo PT. Isso significa que perdemos a batalha política. Isso é sim responsabilidade do governo, mas é muito mais uma responsabilidade do nosso partido". Garcia falou na necessidade do partido apresentar um novo modelo político e econômico, mas “resta saber se isso será possível em tão pouco tempo para motivar a militância e reconquistar o eleitorado perdido”.

Além das cadeiras vazias no 5º Congresso Estadual, na avaliação de Ricardo Kotscho outro sintoma da agonia do PT é a ameaça da fuga de vereadores e prefeitos preocupados com a alta rejeição ao partido em São Paulo e que já estão em negociações com o PSB, o novo partido de Marta Suplicy, para disputar as eleições municipais do próximo ano. Na avaliação do próprio partido, o PT pode perder até 30% das 68 prefeituras que tem atualmente. Em 2014, antes da atual crise, a bancada na Assembleia Legislativa já tinha caído de 24 para 14 deputados.

Há tempos que estudiosos sobre a história do PT dizem que a atual situação de descompasso entre a militância e as posições que o partido assume no governo se deve à chegada ao poder, em 2003. Desde que Lula ganhou a eleição presidencial, a legenda deu uma guinada “elitista” (imitando os outros partidos em tudo) que, pelo menos num futuro próximo, não será desfeita. “O que temos hoje é um partido diferente do que existia nos anos 1980 e 1990. O PT hoje governa o país desde 2003 e isso traz uma série de pressões programáticas e ideológicas sobre a agremiação e seus grupos”, diz Oswaldo Amaral, doutor em Ciências Políticas pela Unicamp com uma tese que analisou as mudanças internas do PT desde sua origem.

*Advogado

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