sexta-feira, 22 de julho de 2011

Para recuperar falhas na educação, faculdades ensinam tabuada

PUCRS conta o Laboratório de Aprendizagem (Lapren), que oferece aulas de reforço em português e matemática
Foto: Gilson Oliveira/PUCRS/Divulgação

Ao chegar na universidade muitos estudantes percebem que a educação básica falhou. Para impedir que essas deficiências atrapalhem o rendimento dos alunos e façam com que eles desistam dos cursos, algumas instituições de ensino investem em aulas de reforço, que resgatam conteúdos que já deveriam vir assimilados do ensino fundamental, como conhecimento da tabuada e de ortografia.

De acordo com a professora da pós-graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP) Sílvia Gasparian Colello, os espaços de reforço são lugares positivos de aprendizado, porém não podem substituir o papel das escolas. "É como um tapa-buraco, pois é complicado suprir nove anos de ensino fundamental, mais três de ensino médio só com algumas aulas", afirma.

Para o professor da faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Helvécio Aguiar, essa má qualidade da educação básica tem suas raízes na ditadura militar, período de sucessivas reformas na educação, mas sem nenhuma que tenha privilegiado a formação do professor. O especialista diz que o problema não escolhe classe social e aparece em alunos oriundos de escolas públicas e privadas. "A forma de aprovação é um grande problema, porque não aprova nada. O aluno é 'bonzinho' em sala de aula e não incomoda, e isso pode bastar para que ele seja aprovado na escola", critica Aguiar.

Reforço de tabuada e classes gramaticais
Para melhorar o desempenho dos alunos, há três anos a Faculdade Iguaçu, em Capanema (PR), oferece aulas de reforço. Sua base são as disciplinas de português e matemática, nas quais os estudantes encontram mais dificuldade. Entre os conceitos ensinados estão desde conteúdos básicos, como tabuada e classes gramaticais, até interpretação de textos e raciocínio lógico. Qualquer aluno matriculado na faculdade pode assistir às aulas, ministradas aos sábados e que não obrigatórias no currículo.

A diretora acadêmica da instituição, Andreza Piton, afirma que esse espaço não deveria ser frequentado apenas por alunos iniciantes, mas também por aqueles que já estão mais avançados na graduação, pois a atividade resulta em uma melhora no desempenho dos estudantes em sala de aula. "Os alunos começam a responder melhor ao estímulo dos professores, acompanham melhor a aula, o que reflete em menos evasão da graduação", explica.

Aulas de reforço não servem para ensinar todo o conteúdo do ensino médio
Para a coordenadora de ensino e desenvolvimento acadêmico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Valderez Lima, cada vez mais as universidades precisam estar prontas para auxiliar esse aluno que chega na graduação com um conhecimento que não é o ideal. "As universidades têm o dever de ajudar", salienta. Desde 2009, a PUCRS conta o Laboratório de Aprendizagem (Lapren), que oferece aulas de reforço em português e matemática.

Segundo Valderez, essas aulas não têm papel de substituir o ensino médio, ensinando toda a matéria, mas são eficazes como preenchimento de lacunas na educação do universitário. "Ela serve para completar um aprendizado que não foi bem sucedido. Às vezes, o estudante não estava focado ou até não entendeu a forma como o professor colocou o conteúdo", afirma a educadora.

No curso de Publicidade e Propaganda da Anhembi Campinas, os professores também reconhecem os reflexos do curso de nivelamento na sala de aula. "Os estudantes sempre vêm relatar que ganham mais confiança na hora de escrever, seja na elaboração do texto, seja em aspectos como crase e vírgulas", afirma a professora Denise Lourenço.

Em qualquer graduação, o volume de textos que precisam se lidos costuma ser grande. Em Publicidade e Propaganda, de acordo com Denise, nessas horas, o nivelamento também é eficaz. "Tem muita interpretação de texto. Logo no primeiro semestre, eles têm produção de linguagem publicitária, em que precisam praticar um texto conciso e evitar o senso comum. Para isso, é preciso ter bagagem, aí entram as oficinas", explica.


Fonte: Cartola - Agência de Conteúdo

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