sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Exemplos de Coleta de óleo de fritura no Estado do Rio de Janeiro

O serviço de coleta de óleo de fritura no Estado do Rio de Janeiro foi o tema escolhido por Carlos Malta, morador da cidade do Rio de Janeiro e com experiência em Coleta, transporte e reciclagem; de óleo vegetal; Coleta, transporte e reciclagem de eletroeletrônico; Coleta, transporte de efluentes fotoquímicos; Transporte, armazenamento e destinação final de lâmpadas fluorescentes, medicamentos, amalgamas e filmes radiológicos; Licenciamento Ambiental; Pericia e Auditoria Ambiental; Gerenciamento de Resíduos e PGRSS para a elaboração do Trabalho de Conclusão do curso de Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos oferecido pelo Portal Resíduos Sólidos. 

Uma breve introdução

A história da utilização do óleo pelo homem, se perde no tempo, há mais de 6 mil anos o homem já utilizava o óleo de oliva, os povos da Mesopotâmia untavam seus corpos para se protegerem do frio.
Na China, na Índia, no Egito e no Oriente Médio o óleo era usado também para fins medicinais, na fabricação de tintas, ceras, vernizes e perfumes, em toda a Europa ele era usado na fabricação de sabões, de cosméticos e na calefação de barcos.
Ao longo da história o homem foi descobrindo diversas utilidades para o óleo alem da alimentação.
Os óleos vegetais deram origem aos óleos de cozinha, sendo obtido de várias plantas, como o buriti, mamona, soja, canola, girassol e o milho, pertencendo ao grupo dos lipídios, sendo os triacilglicerois, os lipídios mais comuns em alimentos, formados predominantemente por produtos da condensação entre glicerol e ácidos graxos, usualmente conhecidos como óleos e gorduras (Ribeiro & Seravalli, 2004), desempenhando um papel muito importante na alimentação humana, melhorando as características sensoriais no sabor, odor e na textura do alimento.
O consumo regular de óleos se faz necessário, pois o corpo humano não consegue produzir as gorduras essenciais ao organismo, sendo os transportadores de vitaminas lipossolúveis (A, E, D e K) e ácidos graxos insaturados essenciais para o interior das células, exercendo uma importante função na estrutura, na composição e na permeabilidade das membranas e nas paredes celulares (Pereda, 2005).
O processo de fritura provoca alterações físicas e químicas nos óleos, sua oxidação e hidrolise, levando a produção de compostos tóxicos, alteração do sabor, cor e do odor, tornando-se uma preocupação para os profissionais das áreas de nutrição e saúde publica (Araujo, 2004: Pereda et al.2005).
Um fator relevante é a possível formação de ácidos graxos trans no óleo em temperatura elevada, podendo acarretar problemas cardiovasculares, baixo crescimento do feto, risco de pré- eclâmpsia, entre outros (Chiara et al.2002, Sandibal & Filho,2004).
O escurecimento, o aumento da viscosidade, a diminuição do ponto de fumaça e a formação de espuma, são mudanças físicas que ocorrem no óleo durante o processo de fritura, com influencia na sua qualidade e na do alimento (Sanibal & Filho. 2002).
Existem medidas para definir o ponto correto para o descarte do óleo de fritura, uma delas é a analise de quantificação dos compostos polares, usada por vários países da Europa (Bélgica, França, Alemanha e Suíça), que permite o máximo de 25% dos compostos polares nos óleos. No Brasil, não há regulamentação que defina legalmente o momento de descarte para óleos de fritura (Sanibal & Filho, 2002).

Reciclagem de óleo de fritura no Estado do Rio de Janeiro

O estado do Rio de Janeiro, segundo o IBGE em 2014 através do seu censo demográfico, foi considerado o Estado com a maior densidade demográfica do Brasil, sendo considerado o 4º menor estado do Brasil, ocupando uma área de 43 777,954 Km2. É a segunda economia do Brasil, e a quarta da América do Sul, com uma população estimada de 16.461.173 habitantes, sua meta é erradicar todos os lixões em suas 92 cidades, passando a descartar seus resíduos sólidos em aterros sanitários, onde foram criados vários   programas para diminuir e reciclar os resíduos gerados no Estado do Rio de Janeiro.
O óleo de fritura ainda é descartado sem nenhum critério, e muitas das vezes as donas de casa por falta de orientação, jogavam o mesmo nos ralos ou os colocava em garrafas pet e os colocavam no lixo comum, indo parar nos lixões.
No site oficial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, está registrado como tudo começou:
Em 1º de Janeiro de 2007, Sérgio Cabral assume o governo do Estado do Rio de Janeiro, empossando Carlos Minc na Secretaria de Estado de Meio Ambiente.
Minc procurou empresários, cooperativas, ONG’s e a sociedade civil como um todo e começou o seu projeto arrojado.
No primeiro ano da nova administração estadual, em 2007, o Governo do Estado do Rio de janeiro assumiu o compromisso de reverter o dramático quadro dos lixões, lançando o Pacto do Saneamento com a audaciosa meta de erradicação de todos os lixões municipais, era o programa lixão zero sendo iniciado.
O programa LIXÃO ZERO é anterior à lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, este programa teve inicio com a assinatura do convenio MMA/ SRHUnº10/2007 que estabeleceu a meta original de elaborar proposta focando em soluções regionalizadas para o destino final dos resíduos sólidos urbanos, dos 70 lixões existentes em 2007, já foram fechados 53, existindo ainda 17 lixões em funcionamento.
O governo do estado do Rio de Janeiro lançou diversos programas voltados para a coleta seletiva e a reciclagem, visando à redução da quantidade de resíduos encaminhados aos aterros sanitários, sua meta é alcançar 10% no índice de reciclagem do lixo gerado em todo o estado, foram criados diversos programas que fazem parte das ações do pacto da reciclagem, um deles é a coleta e a reciclagem do óleo de fritura.
O Programa de Reaproveitamento de Óleos Vegetais do Estado do Rio de Janeiro, chamado de PROVE, foi criado em 2008, com a finalidade de incentivar à reciclagem do óleo de cozinha usado, ajudando a reduzir o seu descarte nos lixões e na rede de esgoto.
O programa consiste na coleta de óleo por meio das cooperativas populares e na venda deste óleo para a refinaria de Manguinhos, onde ele é transformado em biodiesel

Gestão e gerenciamento do óleo de fritura  

A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos no Estado do Rio de Janeiro são realizados por empresas credenciadas pelo órgão ambiental Estadual (INEA) e pelas secretarias ambientais municipais de cada município, onde são exigido conhecimento sobre a tratabilidade, sendo necessário um responsável técnico, que vai elaborar um memorial descritivo que fará o organograma do projeto, contemplando as maquina e os equipamentos necessários para sua tratabilidade, o seu reuso e a sua reciclagem, com a sua correta destinação final, através de um documento chamado manifesto de resíduo, onde sua rasteabilidade é possível por estar registrado na internet, sendo elaborado em 4 vias.
Com o óleo de fritura, após a realização das diversas etapas em sua purificação, o mesmo é enviado para produção de diversos produtos.
Abaixo vemos uma figura que nos mostra o seu caminho para a produção do biodiesel.
Óleo de cozinha é recolhido, transformado em biodiesel, distribuido e adicionado ao óleo diesel comum. (FONTE: Claudia Bejan, professora de química da UFRPE, Nívia Freitas, diretora da Recóleo, Lucinaldo da Silva, Diretor da Disque Óleo)
Óleo de cozinha é recolhido, transformado em biodiesel, distribuido e adicionado ao óleo diesel comum. (FONTE: Claudia Bejan, professora de química da UFRPE, Nívia Freitas, diretora da Recóleo, Lucinaldo da Silva, Diretor da Disque Óleo)

Aspectos ambientais do óleo de cozinha

O óleo de cozinha no Brasil ainda é comumente descartado na pia da cozinha, por não termos políticas bem elaboradas de gerenciamento deste resíduo.
“Segundo Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – (ABIOVE). O Brasil produz aproximadamente 9 bilhões de litros de óleos vegetais por ano. Desse volume produzido, 1/3 vai para óleos comestíveis, o que resulta em uma produção de 3 bilhões de litros de óleos por ano no país, estudos apontam que 6 milhões e meio de litros de óleo são coletados para reciclagem, menos de 1% da produção, podemos concluir que milhões de litros de óleos usados vão para os rios, lagos e mares comprometendo seriamente o meio ambiente”. 
“Segundo a Oïl Word o óleo representa uma porcentagem ínfima do lixo, porem seu impacto ambiental é muito grande, representando o equivalente da carga poluidora de 40.000 habitantes por tonelada de óleo despejado em corpos d’água. Apenas um litro de óleo é capaz de esgotar o oxigênio de até 20 mil litros de água, formando, em poucos dias, uma fina camada sobre uma superfície de 100 m2, o que bloqueia a passagem de ar e luz, impedindo a respiração e a fotossíntese”
Pesquisadores afirmam que um litro de óleo de cozinha pode poluir certa de 10.000 litros de água, mas algumas estimativas dizem que um litro de óleo pode poluir até um milhão de litros de água (quantidade de água equivalente ao que uma pessoa consome em aproximadamente 14 anos). Além disto, a poluição pelo óleo faz encarecer o tratamento da água em cerca de 45% (GALVALIZI, 2009).
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alexandre D’Avignon, revela que a decomposição do óleo de cozinha por bactérias anaeróbicas emite grandes quantidades de metano na atmosfera. O gás metano retém mais radiação solar, por isso é 21 vezes mais poluente que o gás carbônico.
No solo impermeabiliza o mesmo, provocando a proliferação de microorganismos e causando danos ao sistema radicular das plantas.
Nas tubulações o mesmo aglutina diversos resíduos que são jogados no esgoto, tais como pontas de cigarros, restos de cabelo, unhas, curativos, cotonetes, etc., formando um bloco rígido, difícil de ser retirado, causando mau cheiro e dificultando a passagem da água.
O Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) ao perceber que o estrago ocasionado pelo descarte do óleo de cozinha no meio ambiente era muito preocupante, lança em 2011 a Resolução nº430/2011, que passou a limitar o lançamento de óleo nos corpos d’água em 50mg por litro de água (1 litro de óleo para 20 mil litros de água), e para os rios Classe 1, 2 ou 3, a presença do óleo deve ser virtualmente ausente.
A queima do biodiesel contribui para o ciclo neutro de carbono, pois todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) emitidas durante a sua combustão são absorvidas pelas oleaginosas durante seu crescimento, o que equilibra o balanço negativo gerado pela emissão de gás carbônico na atmosfera (RAMOS, 1999).
Ciclo de funcionamento da Cadeia do Biodiesel (FONTE: Plan.a Bio)
Ciclo de funcionamento da Cadeia do Biodiesel (FONTE: Plan.a Bio)

Coleta e transporte de óleos vegetais

A coleta e o transporte dos resíduos sólidos exigem um bom planejamento, recursos financeiros e humanos, onde seu objetivo é gerar segurança aos profissionais envolvidos e retorno financeiro.
O Programa de Reaproveitamento de Óleos Vegetais do Estado do Rio de Janeiro o Prove, já conseguiu evitar que cerca de 15 milhões de litros de óleo de cozinha usado fossem descartados inadequadamente em ralos de pias, o Governo Do Estado do Rio cede as cooperativas Kombi com motorista e combustível, local para armazenamento, e as cooperativas fornecem a mão de obra, para depois venderem para as recicladoras.
Existem diversas firmas que fazem a coleta em restaurantes, industrias e condomínios, pagam pelo óleo coletado e os vendem já tratados para as indústrias.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro está recorrendo às empresas e as cooperativas de catadores, para estartar a coleta e o transporte do óleo, que ainda não atingiu os seus 10% de todo o volume de óleo gerado por toda a população”. (Secretaria de Estado do Ambiente RJ.).

Aspectos econômicos relacionados ao óleo de fritura

O óleo de cozinha é beneficiado pelas centrais de tratamento, especificas para o óleo usado, onde é feito a remoção dos sólidos e da água, e o seu PH é corrigido, sendo utilizada na produção de sabão, ração animal, na fabricação de tintas, como fonte alternativa de energia e como o biodiesel, garantindo oportunidade de trabalho para muita gente.
Sua reciclagem permite o seu emprego como matéria prima na produção de biodiesel (combustível alternativo ao diesel do petróleo), limpo e isento de enxofre, um dos responsáveis pela redução da camada de ozônio e chuvas ácidas (BAIRD, 2002).
Oliveira e Sommerlatte (2009) afirmam que o óleo descartado no ralo da pia provoca incrustações nas tubulações, pois se emulsifica com a matéria orgânica, formando crostas e retendo resíduos sólidos, atraindo assim, vetores de doenças e causando mau cheiro. Esse fator pode ocasionar a necessidade da adição de produtos tóxicos nocivos ao meio ambiente para a retirada destas crostas. Os autores ainda acrescentam que o óleo prejudica as estações de tratamento de esgoto, interferindo negativamente no desempenho dos decantadores e dos biodigestores anaeróbios, que acabam produzindo maior carga orgânica, ocasionando maior geração de lodo e espuma. Além desses prejuízos já citados, o descarte do óleo no encanamento encarece em 45% o tratamento do esgoto.

Desenvolvimento sustentável deste seguimento no Estado

Atualmente, o Prove mobiliza aproximadamente 400 trabalhadores de vários municípios fluminense, cadastrados em 45 cooperativas, que recolhem em média 3 milhões de litros de óleo por ano. O programa já alcançou a maioria dos municípios fluminenses, tendo ampliado o seu dialogo com a iniciativa privada, estabelecendo parcerias focadas na instalação de pontos de coletas em diversas empresas.
Moradores e comerciantes de diversas comunidades, já estão depositando seu óleo de cozinha usado em diversos pontos de coletas espalhados pela cidade, contribuindo para a sustentabilidade do projeto.

Conclusão

A influência da ação humana na natureza é percebida também, pela sua geração abusiva de resíduos, onde podemos perceber que o modelo econômico atual necessita de mudanças urgentes, pois os recursos são finitos e para a economia ser sustentável, existe a necessidade da elaboração de um novo modelo econômico, a economia circular.
O óleo vegetal aqui no Brasil é muito abundante, tornando-se um produto barato e de fácil obtenção, desestimulando a sua reciclagem, seus custos de arrecadação e de seu processamento, encarecem todo o seu processo, se compararmos com a utilização do óleo vegetal puro, porem seu prejuízo ao meio ambiente, tornam sua reciclagem uma pratica obrigatória em beneficio do meio ambiente.
O óleo de cozinha como resíduo, é o grande vilão, pois apesar de representar um volume inferior comparado a outros resíduos, seu poder de poluição é muito grande, logo se faz necessário a realização de uma política agressiva que contemple toda a população, incentivando seu correto armazenamento e a sua destinação final para as empresas de reciclagem ou para as cooperativas, evitando seu descarte em locais inadequados. 
Sabemos que na sociedade em que vivemos é quase impossível não gerarmos resíduos, ao observarmos o cenário mundial, constatamos um aumento siguinificativo na sua geração, porém o gerenciamento correto de qualquer resíduo, é de fundamental importância para a natureza, que é o santuário da humanidade.

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