terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Por que a pior escola particular do Piauí ainda é melhor do que a pior pública?

Não, não é um simples ditado popular: “filho de pobre sofre”. Os dados divulgados nesta segunda-feira (22/12) comprovam que a máxima é mais do que intuição, é fato. As melhores escolas do Piauí, ou seja, as que têm os índices mais altos no levantamento do Ministério da Educação baseado em notas do Exame Nacional do Ensino Médio, são as que cobram mensalidades mais caras e, salvo bolsas de estudos, onde só filhos de ricos podem estudar. Um dos colégios públicos mais tradicionais do Piauí, o Liceu Piauiense, tem desempenho medíocre: não figura na lista dos piores, tampouco aparece entre os melhores.
Ficando entre as melhores escolas do país, os tradicionais Dom Barreto e Lerote revelam o peso dos fatores socioeconômicos na educação dos piauienses. Já entre as piores escolas do Piauí, além do desempenho sofrível dos alunos, há mais um elemento em comum: a maioria é do interior do Estado, de cidades como Bom Jesus e Jaicós. Ou seja, o fluxo dos recursos é concentrado na capital, apesar de iniciativas como o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), cujo montante é repassado mensalmente aos municípios para investimento exclusivo em educação. Quando deixam de aplicar o recurso carimbado do Governo Federal para a educação, as Prefeituras selam um destino negativo e triste para suas crianças e para o próprio futuro.
E por quê apenas os colégios públicos são os piores? Mesmo entre as particulares com desempenho negativo, nenhuma é tão ruim como uma instituição educacional pública. Em áreas distintas, como Redação, Linguagens e Códigos, Ciências Humanas, Matemática e Ciências da Natureza, a pior escola privada ainda é melhor que a pior escola pública. Abrindo como exceção os alunos que estudam em colégios técnicos federais e militares, o cenário encontrado nos colégios mantidos pelo Governo é semelhante: o corpo de professores e gestores que passa a se qualificar se torna mais atrativo para o mercado, deixando os baixos salários do ensimo público; não há estrutura física adequada para o estudo e, principalmente, falta envolvimento institucional entre a gestão escolar e a família dos estudantes.
O ranking do Enem, no entanto, não deve servir apenas para favorecer as escolas que tiveram as melhores notas e prejudicar as que obtiveram notas ruim, pelo contrário, esperam-se investimentos para mudar o quadro dos colégios com desempenho ruim. A avaliação é imprescindível para mensurar o quadro geral de cada instituição, mas apenas jogar dados como quem joga baralho não é uma atitude profícua. Políticas públicas devem ser reprogramadas e, para isso, é necessário que a vontade política aja como mola propulsora. Os instrumentos avaliativos têm seus limites, e a inteligência emocional e a civilidade não são medidos pelo MEC. O ENEM não avalia escolas e sim alunos. Mas os alunos são justamente fruto do que aprendem – ou deixam de aprender – na escola.
Fonte : RepórterPublicado por: Sávia Barreto

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