quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

FOCO NA APRENDIZAGEM FAZ MUNICÍPIO DO PIAUÍ MELHORAR DESEMPENHO EM MATEMÁTICA

Levantamento do Todos Pela Educação revela cidades como Tanque do Piauí que, apesar do nível socioeconômico baixo, avançam na disciplina

 
Foco na aprendizagem faz município do Piauí melhorar desempenho em Matemática
  
Francisca Fonseca


Do Todos Pela Educação

Tanque do Piauí, município de menos de 3 mil habitantes e apenas 600 alunos matriculados no Ensino Fundamental, no sudeste semiárido do Piauí, localizado na região da Chapada Grande, a cerca de 300 quilômetros da capital Teresina, vem fazendo grandes progressos no aprendizado de matemática em sua rede pública. Com um trabalho pedagógico focado nas operações básicas, combinado à implantação de alguns programas do Ministério da Educação (MEC), a cidade vem conquistando índices de qualidade cada vez melhores.
Em 2009, a cidade tinha 16% de seus alunos do 5º ano com aprendizado adequado em matemática. Em 2011, essa taxa saltou para 60%. Para o 9º ano, entre 2009 e 2011 o crescimento foi de 9.5 pontos percentuais – de 0% para 9,5%.
Tanque do Piauí aparece em levantamento de municípios brasileiros que tiveram melhora significativa no desempenho em matemática, entre 2009 e 2011, em suas redes públicas, realizado pelo Todos Pela Educação, que serão retratados em uma série de reportagens produzidas pelo movimento. Além do crescimento no desempenho, o recorte considerou apenas municípios de nível socioeconômico baixo, levando em conta a renda média mensal das famílias. Ou seja, as crianças que estudam nessas escolas são alunos que conseguiram melhorar o desempenho, mesmo vivendo em condições socioeconômicas desfavoráveis. O levantamento considerou dados dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental para a Meta 3 do Todos Pela Educação: todo aluno com aprendizado adequado ao ano em que está matriculado.
A série de reportagens vai procurar identificar as políticas públicas e as ações de formação docente adotadas nesses municípios que resultaram nessa evolução em matemática, disciplina em que o Brasil patina há anos. Dados de 2013 mostram que apenas 10% dos jovens que concluem o Ensino Médio saem da Educação Básica com o aprendizado adequado para a disciplina.
O progresso de Tanque do Piauí também aparece no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em 2011, a rede municipal registrou Ideb 5.4 para os anos iniciais do Ensino Fundamental – média superior à nacional (5) e bem mais alta que a meta do município para aquele ano (3,5). O Ideb 2011 da cidade superou também a meta do MEC para 2021, que é 5,2.
Nos anos finais, o Ideb pulou de 2,2, em 2009, para 4,9, em 2011, índice que também supera a meta para 2021 do MEC para o município (5,2). O Ideb nacional para os anos finais foi 4,1.
Avaliação e formação
A rede municipal de Tanque do Piauí realiza encontros formativos de capacitação de seus professores em todas as áreas, inclusive matemática, no início do ano letivo, durante a semana pedagógica. Para fazer essa capacitação, o município contrata professores da rede particular ou da rede estadual.
Segundo a coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Francisco Lustosa, Messilene Pereira, os professores conseguem trocar experiências pedagógicas com os colegas, o que ela considera enriquecedor. “É interessante porque permite que eles pensem em projetos e práticas conjuntas em temas específicos da disciplina”, afirma ela. 

Ao longo do ano, a cada dois meses, o município também organiza formações docentes aos sábados, pautadas nas avaliações dos alunos. “Com esse diagnóstico, se percebemos que geometria tem sido dificuldade para os estudantes, a formação terá esse tema para os professores de matemática”, explica o secretário municipal de Educação, Antônio de Sousa Silva. Com as discussões e avanços conquistados nas reuniões de formação, os professores têm melhores condições para, durante as horas de trabalho coletivo ao longo da semana, preparar aulas e atividades mais eficientes e significativas para os alunos. 
Ao tratar o resultado das avaliações como um diagnóstico, coordenadores e professores perceberam que as crianças estavam com grandes problemas para efetuar as operações básicas da matemática. A tabuada, por exemplo, tornou-se um dos principais focos do trabalho docente. “Alunos do 9º ano estavam se formando sem saber multiplicar e dividir. A formação e o planejamento dos professores, com mais tempo para fazer o diagnóstico dos alunos, são decisivos para criar projetos que explorem essas dificuldades”, afirma Silva.
Na escola da coordenadora pedagógica Messilene, ela é responsável pela formação continuada de três professores de matemática. Como estratégia para fazer as turmas avançarem na disciplina, a equipe docente organizou gincanas de matemática interclasses, com o objetivo de explorar ao máximo os conhecimentos dos alunos sobre a tabuada. “Como é um tema fundamental e básico, tentamos formas diferentes, não muito tradicionais, que chamassem a atenção dos alunos para o aprendizado”, conta ela. 
Gestão
Com a adesão ao programa do MEC de Educação Integral, o Mais Educação, que oferece uma série de atividades para a escolha do município, Tanque do Piauí passou a ofertar um sistema de reforço de matemática e português para toda a rede. Todos os 200 alunos da rede municipal fazem as aulas no contraturno. 
Outra mudança que a gestão municipal vem fazendo é nuclear as escolas para acabar com as unidades multisseriadas – o município tem uma grande zona rural. A inauguração de novas unidades, com prédios melhores, segundo a prefeitura, é um dos maiores ganhos da cidade nos últimos anos. “A infraestrutura melhor agrada a todos e muda a dinâmica da escola. Com isso, conseguimos com que cada professor da rede municipal dê aula em apenas uma unidade nossa”, explica Silva. 
Todos os alunos da zona rural da cidade têm transporte escolar garantido, segundo a Secretaria de Educação de Tanque do Piauí, pelo programa Caminho da Escola, do MEC. Aqueles que moram a mais de três quilômetros de distância do ponto de ônibus recebem uma bicicleta do governo estadual, pelo programa Pedala Piauí, implantado no ano passado. 
Destaque na OBMEP
Com um trabalho pedagógico que vem dando certo em matemática, Tanque do Piauí começa a colher resultados além dos índices. Em 2012, a cidade recebeu uma menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Em 2013, foram duas. 
“Após a primeira etapa da Olimpíada, oferecemos um reforço especial para os alunos que passam, para que eles tenham um bom desempenho”, revela o secretário municipal de Educação, Antônio de Sousa Silva. O material da competição é utilizado no preparo dos alunos.
A cidade também passou a fazer uma Olimpíada local no ano passado. “Adotamos uma competição própria, como forma de incentivar os alunos”, diz o secretário. 
A coordenadora Messilene afirma que os alunos ficam empolgados com o reconhecimento aos participantes da OBMEP. “Sempre incentivamos a participação e, quando eles passam de fase, fazemos uma pequena homenagem”, lembra ela. 
Cidade pequena
A melhora no desempenho dos alunos em matemática na cidade, que tem 2.683 habitantes, não passa apenas por ações da gestão municipal. Segundo os professores, o fato de o município ser muito pequeno é determinante: todos se conhecem e o contato entre escola e família fica muito mais fácil. As reuniões de pais são mensais e coincidem com entrega das avaliações.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC) mostram que na cidade existem apenas quatro pré-escolas, cinco escolas de Ensino Fundamental e uma unidade de Ensino Médio. São 79 alunos na Pré-Escola, 525 no Ensino Fundamental e 99 no Médio.
O número de professores que atuam na cidade também é pequeno: oito para as crianças do nível pré-escolar; 34 para os estudantes do Fundamental e apenas 6 para o Médio. Todos os dados são de 2012. Os professores de Tanque do Piauí, segundo a secretaria municipal de Educação, recebem o piso nacional docente por uma jornada de 40 horas, que, em 2014, é de R$ 1.697,39.
O professor Denisfran Nunes da Silva, que leciona na cidade há 16 anos, afirma que o relacionamento entre famílias e escola é bastante facilitado pelo "clima de comunidade" da cidade. “Aqui todo mundo conhece todo mundo e isso ajuda muito na hora de dialogar com os pais sobre os problemas que a criança enfrenta na escola”, lembra. “Muitas famílias são desestruturadas e têm grandes problemas – muitos são criados pelos avós, por exemplo”, explica.
O professor de matemática Raimundo Nunes ainda completa que, por conta da grande quantidade de analfabetos no município, muitas crianças chegam à escola com pouco contato com o mundo letrado. “A maioria dos alunos são filhos de pais analfabetos o que dificulta bastante a situação”, afirma.
Mas ele ressalta outro ponto positivo da cidade pequena. “Aqui ainda não temos grandes problemas com álcool e drogas como sabemos que existe numa cidade grande, por exemplo. Isso é um terror em outros municípios e pelo menos não enfrentamos”, lembra o docente.

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