segunda-feira, 7 de abril de 2014

Caça predatória ameaça reprodução de ave migratória no interior do Piauí

A caça predatória ameaça a reprodução da avoante (Zenaida auriculata), espécie de pomba campestre que tem o Piauí em sua rota de migração. No município de Pio IX, a 440 km de Teresina, as aves são abatidas no ninho, durante a noite, quando são incapazes de perceber a aproximação dos caçadores.
Imagem: divulgaçãoAvoantes abatidas(Imagem:divulgação)Avoantes abatidas
As propriedades rurais onde está localizado o pombal – santuário de reprodução coletiva, quando podem ser avistados milhares de ninhos com ovos no chão – são invadidas a noite. Com lanternas, os caçadores desnorteiam e matam os animais utilizando pedaços de madeira, estilingues e espingardas.

Há relatos de pessoas que abateram mais de 200 avoantes em uma única incursão pelo pombal. A carne do bicho é apreciada como iguaria e vendida como tira-gosto em alguns bares da região.
Imagem: divulgaçãoBando de avoantes(Imagem:divulgação)Bando de avoantes
Na fazenda Cantinho, zona rural de Pio IX, as aves começaram a pôr há 15 dias. Desde então o agricultor Adalberto Alencar vem percebendo indícios de invasão das roças. Cercas avariadas, pasto e plantações pisoteadas e centenas de ninhos abandonados são os rastros deixados pelos caçadores.

“Tão acabando com tudo. Tá ficando sério e não é só aqui nas minhas terras, mas em outras fazendas também. E pior que a gente telefona pro Ibama, pra polícia e ninguém aparece pra tentar resolver a situação”, reclama o agricultor.

Foi através da professora Rosa Melo que a denúncia do crime ambiental praticado na caatinga piauiense foi registrado e chegou nas redes sociais. Dona de um rico acervo fotográfico da flora e fauna local, sempre registrados em sua exuberância, Rosa se diz ferida com a predação desenfreada da ave. Para ela, falta educação e ação dos órgãos fiscalizadores.
Imagem: DivulgaçãoNinhos de avoantes(Imagem:Divulgação)Ninhos de avoantes
“Parece tão óbvio, que as vidas de todos os seres estão interligadas e interdependentes, mas justo o bicho homem que se diz dotado da tal ‘razão’ não se dá conta. Analiso essa realidade muito mais com olhos de professora, e aí sim, me fere, me machuca constatar que a educação do nosso país não tem nenhum papel determinante na formação da consciência ambiental do nosso povo. E me revolta sim, a inoperância de órgãos públicos, que se dizem responsáveis, e se cobrem de leis que não se cumpre”, afirma a professora.

O professor Cineas Santos repercutiu a denúncia de Rosa Melo. Em pequeno texto publicado em sua conta na rede social Facebook, ele pergunta “Onde está o Ibama?” e lembra que ao atacar as avoantes, o caçador atenta, inclusive, contra si. “Preservar é preservar-se”, chama atenção.

Crime ambiental

De acordo com o Art. 29 da a Lei nº 9.605 é considerado crime: "matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. A pena pela infração é detenção de seis meses a um ano, e multa.

A avoante

A intervalos de dois a três anos, certas regiões do Nordeste brasileiro são cobertas por uma nuvem de aves migratórias, que ali acorrem aos milhões para a postura. A avoante (Zenaida auriculata) é uma pequena pomba parda e cinzenta, de pés vermelhos e bico preto, que mede de 22 a 25 cm de comprimento e pesa cerca de 120g. A espécie típica ocorre das Antilhas à Terra do Fogo, descontinuamente. Habita áreas de campos cerrados, pastos, lavouras e até mesmo a caatinga.

As migrações, que naturalistas citam entre as mais espetaculares do mundo, ocorrem de abril a junho no Nordeste brasileiro. Os bandos cobrem extensões de até cinco quilômetros, e as aves, ao pousarem, deixam o chão coalhado de ovos brancos. É nessas ocasiões que, com facilidade, os caçadores as abatem.


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